10 dezembro 2016

Prova negativa

É uma longa história. E uma história que de certa perspectiva possui sim um fim, cujo eu pretendo relatar. Mas, de todo modo, é de fato longa. Eu lembro quando começou. Em 28 de Maio de 2012.
Eu nunca sonhei em casar, nem com o casamento ou o vestido, nada, em absoluto. Mas nessa data específica eu lembro de ter pensado que queria casar com o meu namorado na época, com quem eu estava há quase três anos.
Depois da insistente e sufocante pressão da cultura gospel de igreja e de pessoas naquele sentido educadas, eu acho que finalmente cedi à pressão e naquele dia passei a pensar que sonhava com casamento na forma que aquela cultura apresentava.
Noivei. Foi cinematográfico. Meu pedido foi surpresa em um balão, e o passeio de balão foi surpresa também. Se você buscar fotos na internet pode ainda encontrá-las. Recomendo que o faça, pois são de fato lindas as fotos.
E tão logo noivei ganhei apartamento, festa e novos sonhos e planos que pareciam ser meus e continuei caminhando, planejando uma vida que aparentemente era a que eu queria.
Nove meses antes do início dessa vida planejada e arquitetada até a minha morte eu vivia um panorama de perfeição: 46kg, 1,60m, 14% de gordura corporal, alimentação pré e pós treino que eram de seis dias na semana. Igreja, família, casamento marcado, estudos em dia para o concurso da magistratura, e até um cachorro perfeito. Ah! E de repente uma depressão.

Outro dia eu conto sobre ela e a contextualizo. Hoje quero falar do casamento.
Resultado: quatro meses antes do casamento eu rompi meu noivado e meus pais arcaram felizes com todas as multas de cancelamento em razão de ver a filha deles melhorar daquela doença e sair de casa novamente.

O cenário de mudança de vida quando você vence a depressão é bonito de ver por fora. Aquela cena de guerra, fogo, destruição e fumaça sendo deixados pra trás e você com os cabelos esvoaçantes pronto para a próxima.
Não é bem assim.
É mais como libertar-se do limbo. Do zumbido ensurdecedor do silêncio absoluto. O desequilíbrio e descontrole das emoções quando você passou tempo razoável sem sentir nada e de repente passa a sentir novamente, ver, querer, degustar, viver novamente.

É como passar do limbo para eventual caos. E nisso tudo, que se deu em outubro de 2014, eu deixei de ir em dois casamentos que se deram naquele mesmo mês e contexto do meu rompimento, que apesar de ter partido de mim e feito melhor para os envolvidos, ficou uma marca, um trauma. Eu não passei por um divórcio, mas acredito que nas devidas proporções o sentimento deva ser o mesmo. É uma desconstrução grande de tantas coisas, que eu resumo em dizer que é de você mesmo.

Em 2015 pensou-se que eu estaria bem para ir a casamentos, mas não teve nenhum. Imagine-se em 2016, é de se esperar que aquele acontecimento não tenha mais nenhum ponto solto. Bom seria. Precisamente neste ano de 2016 eu tive alguns casamentos e me descobri machucada, marcada, magoada, amedrontada e ainda destruída no que se refere a esse sonho que nunca tinha sido meu, pelo menos não daquele jeito que me foi enfiado goela abaixo pela cultura da igreja gospel.

E eu me descobri aos prantos, desesperada com o pensamento de ter que ir em um casamento, ou até chá de panela, chá de lingerie, o que fosse. Eu fugi desses eventos e perdi duas amigas, uma foi maior que minha falta pra ela e minha dor pessoal e continuamos com o mesmo relacionamento incrível de sempre (desde os sete anos).

Até que veio um casamento do qual eu não podia fugir e estavam todos de prontidão para ver minha reação, que eu já admito sem suspense nenhum: foi desastrosa. Eu não tinha como fugir daquele evento e eu precisava finalmente encarar e vencer essa barreira. Confesso que no salão de beleza para fazer cabelo e maquiagem eu só consegui parar de chorar depois de duas taças de vinho que tomei por lá.

E nisso tudo eu estava chateada com Deus e pedindo pela cura completa, porque o rombo de não ter ainda encontrado meu companheiro de vida e ter perdido tanto tempo imaginando uma vida com alguém errado, persistia em grandeza dentro de mim.

Fui. Venci o primeiro casamento. Fiquei nauseada a festa toda. E tão logo pude, fui embora. A dor era grande e eu nunca tinha me aberto pra falar sobre aquilo com ninguém. Aliás parabéns, leitor eventual, você é o primeiro a saber.

Então menos de um mês depois veio outro casamento, e eu estava deprimida já um dia antes. No dia mesmo foi difícil e eu tinha que enfrentar bem, pois era uma das minhas melhores amigas e eu era madrinha. Naquele dia eu me posicionei e disse "Esse é o dia da minha cura completa. Eu estou curada.". E fui feliz a cerimônia e o casamento inteiros.

E agora cá estou eu, quase atrasada para ir ao salão me arrumar para mais um casamento, ela também é uma das minhas melhores amigas. E adivinha? Eu fui curada. Aliás, cura me parece o vocábulo inapropriado para o que se passou.
Eu estou feliz e ansiosa para ir a este casamento. Não vejo a hora que chegue a festa e eu possa abraçar meus amigos e abençoa-los com toda alegria!
Eu não acho que eu tenha conseguido descrever e na verdade nem tentei descrever o desespero e o pânico que eu sentia até uma semana de pensar em ir em um casamento ou festa relacionada a isso. A dor era perfurante.
Mas eu me posicionei e aceitei aquela cura que era minha. A cura é minha por herança! Meu espírito é alegre e portanto minha alma também o é!

Hoje quando me peguei animada e feliz eu tentei ser o mais grata possível a Deus. E para minha surpresa não consegui. E até o presente momento não consegui. Por isso disse que cura não era o vocábulo que melhor se encaixava nessa situação, pois cura você vê onde estava o curativo e a cicatriz. E eu posso dizer com toda segurança do amor incondicional de Deus que é como se nunca tivesse existido essa dor. Não é que não dói mais. É só que eu não consigo nem me lembrar da dor, de como ela foi até uma semana atras para explodir de alegria e gratidão, vez que é como se nunca tivesse estado aqui aquele rombo. É tão novo que parece que eu sempre fui assim, sem trauma.

De toda forma, pode ser que eu não seja apaixonada por estas festas, não sei, vai saber? Não deu tempo ainda. Mas de uma coisa eu sei: eu estou feliz e estou indo me arrumar para um casamento, e não sinto dor ou medo, aliás, é como se eu nunca tivesse sentido. Deus é. 

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